terça-feira, 21 de outubro de 2008

PECOU GRAVEMENTE




Jerusalém pecou gravemente; por isso, se tornou repugnante; todos os que a honravam a desprezam, porque lhe viram a nudez; ela também geme e se retira envergonhada. A sua imundícia está nas suas saias; ela não pensava no seu fim; por isso, caiu de modo espantoso e não tem quem a console. [Lm 1:8-9ª]


A expressão que dá título é este texto é usada por Jeremias em suas Lamentações [Lm 1:8] para descrever o pecado de Jerusalém, isto na versão Revista e Atualizada. A Revista e Corrigida de Almeida e a Corrigida Fiel tão somente invertem a ordem, “Jerusalém gravemente pecou”. A Nova Versão Internacional traduz assim “Jerusalém cometeu graves pecados”, já Bíblia Viva parafraseia dizendo “Os pecados de Jerusalém foram tão terríveis...”. No hebraico, língua original em que foi escrito o livro de Lamentações, diz literalmente “pecado pecou” ou “pecou um pecado” que é uma construção gramatical enfática. Assim Jeremias revela a profunda gravidade do pecado de seu povo, ou seja, Jerusalém não apenas cometeu um pecado qualquer, foi mais além, obstinou-se em pecar, continuou pecando, mesmo diante das várias advertências divinas e de inúmeras oportunidades para que ela viesse a arrepender-se de seu pecado. Sabemos que pecado é uma ofensa terrível aos olhos de Deus, notamos aqui que determinados pecados tem uma natureza e um peso muito maior diante Deus. O próprio Jesus demonstrou que há uma espécie de pecado que não tem perdão, que ele nomeou de blasfêmia contra o Espírito Santo. [Mt 12:32]. João afirma esta mesma idéia, advertindo que não devemos rogar pelos que pecam para a morte [I Jo 5:16].

Isto não quer dizer que Deus não se ofenda com qualquer pecado, todo pecado é uma abominação contra Deus, no entanto existem pecados graves. E que seria então a natureza deste pecado grave? É o pecado repetitivo, ou seja, dominador, que nos subjuga freqüentemente. É aquele pecado que mesmos advertidos e alertados insistimos em se aproximar dele. É o pecado que mina nossa consciência. Jeremias nos auxilia no processo de mortificação do pecado grave, ao demonstrar as suas conseqüências.

Ele afirma “por isso, se tornou repugnante” Primeiro nos torna repugnantes, impuros, sujos. Eis a aspecto emocional do pecado, nos deixa com a sensação pavorosa de sujeira em nossa alma, uma sujeira terrível se apodera de nosso coração, nos tornamos imundos, sentimos nojo de nós mesmos.

Depois ele diz “todos os que a honravam a desprezam”. Segundo, o pecado destrói nossa imagem. As pessoas que nos viam antes diante daquilo que éramos, e que construímos mediante a graça de Deus, certamente nos olharão de uma forma terrível e implacável, seremos motivo de decepção e frustração, aos olhos de nossos irmãos e causa de escândalo aos olhos do mundo.

Então Jeremias reitera. “porque lhe viram a nudez, ela também geme e se retira envergonhada”. A vergonha vem como conseqüência. Nós não conseguiremos olhar as pessoas, encarar diante de tudo que causamos por causa do nosso pecado. O sentimento é como se alguém nos vissem nus, o constrangimento moral e físico de nossa nudez é figura forte da vergonha que nosso pecado causará a nós.

Para descrever o horror do pecado Jeremias mostra outra figura mais drástica: “A sua imundícia está nas suas saias” O quadro aqui é de algo profundamente nojento, que provoca asco. Jeremias descreve uma mulher menstruada, cujo fluxo vazou e sujou toda a sua veste. As roupas femininas [naquela época!!!!!!] cobriam todo o corpo, esse sangramento foi a extremidade inferior da saia. Segundo um Targum [1] o sangue não limpo ilustra uma pessoa não arrependida.

Depois o profeta afirma “ela não pensava no seu fim; por isso caiu de modo espantoso”. Talvez este aspecto seja o mais necessário para motificarmos o poder do pecado em nosso viver. Pode parecer um exercício mórbido, mas é fundamental imaginarmos diante da tentação de pecarmos, o triste fim que aquele ato provocará a nós. Imagine por exemplo a tentação de um adultério. Pense por instante o fim daquele ato em sua vida. Imagine você destruindo seu casamento, destruindo sua imagem diante de seus filhos e amigos, pense por um momento a igreja reunida tratando seu pecado, considere o escandalo que isto provocará na comunidade e pior ainda, imagine a vergonha, culpa, condenação e disciplina de Deus em sua vida. Pense ainda o pior, este pecado lhe seduza a tal ponto que sua consciência fique endurecida e não venha o arrependimento, você será como aquela mulher menstruada, imunda que não quer se limpar. Jerusalem não fez este exercício, “não pensava no seu fim” e por isso caiu desastrosamente, “e não tem quem a console”, ou seja não há mais nada o que fazer.

Assim amados cuidemos para que pecado grave não nos torne impuro, não venha trazer sobre nós desprezo e nos envergonhe, não venha a nos destruir, aniquilando a possibilidade de restauração e consolo.

Pr. Luiz Correia
[Deus meus et omnia]

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[1] Nome dado às traduções em aramaico da Bíblia hebraica [Tanakh] escritas e compiladas em Israel e Babilônia utilizadas para facilitar o entendimento aos judeus que não falavam o hebraico como língua mãe, e sim o aramaico.