quarta-feira, 26 de novembro de 2008

SÓ A GRAÇA - Sola Gratia




II Co 12:7-10


Introdução:

Durante toda a sua vida, um homem pobre quis fazer um cruzeiro. Quando era jovem, tinha visto um anúncio de um cruzeiro de luxo e, desde então, sonhara passar uma semana em um grande navio de turismo, gozando a brisa fresca e relaxando em um ambiente luxuoso. Economizou dinheiro durante anos contanto cuidadosamente seus centavos, sempre sacrificando necessidades pessoais, para que pudesse aumentar um pouco mais os seus recursos.
Finalmente ele conseguiu o suficiente para comprar uma passagem no navio. Foi a um agente de viagem, olhou os panfletos, pegou um que era especialmente atraente e comprou um bilhete com o dinheiro que havia economizado por tanto tempo. Mal podia acreditar que estava para realizar um sonho de infância.
Sabendo que não possuía recursos para comprar o tipo de comida anunciado no panfleto, o homem planejou trazer suas próprias provisões para a semana. Acostumado à moderação, após anos de vida modestos, e tendo gasto toda a sua poupança no bilhete do cruzeiro, decidiu trazer consigo um suprimento semanal de pão com creme de amendoim. Era só isso que ele podia comprar.
Os primeiros dias do cruzeiro foram emocionantes. O homem comia os sanduíches de amendoim sozinho, em seu quarto, cada manhã, e passava o resto do dia relaxando ao sol e ar fresco, maravilhado por estar a bordo.
Pelo meio da semana, entretanto, o homem começou a notar que era a única pessoa a bordo que não estava comendo as luxuosas comidas. Toda vez que sentava no convés, ou descansava no saguão ou saía de sua cabine, parecia que um garçom passava com uma enorme refeição para alguém que solicitara o serviço de entrega na cabine.
Ao quinto dia do cruzeiro, o homem não suportava mais. Os sanduíches de amendoim pareciam velhos e sem sabor. Estava desesperadamente faminto; até a brisa e o sol haviam perdido sua atratividade. Finalmente, parou um garçom e indagou: “Diga-me, como posso ter umas dessas refeições! Estou morrendo de vontade de comer alguma comida decente; farei o que disser para pagar por ela!”
“Mas... o senhor não tem uma passagem para este cruzeiro?”, perguntou o garçom.
“Certamente!”, respondeu o homem. “mas eu gastei tudo que tinha naquela passagem. Não me sobrou nada com que comprar comida”.
“Mas, o senhor” disse o garçom, “o senhor não sabia?” As refeições estão incluídas na sua passagem. O senhor pode comer quanto quiser!”.

Muitos cristãos vivem como aquele homem. Não sabendo das ilimitadas provisões que possuem em Cristo, comem migalhas velhas. Não há necessidade de viver assim! Tudo que poderíamos querer ou necessitar está incluído o preço de nosso ingresso, e o Salvador já pagou por nós!

Há uma palavra que define toda a riqueza que encontramos em Cristo: GRAÇA! Significa presente divino dado a quem não merece. Tudo, absolutamente tudo que recebemos, toda sorte de benção [material ou espiritual] é graça!!!

Paulo [apóstolo da graça] experimentou como poucos a graça de Deus, sofreu como poucos recebeu revelações como poucos e a ele foi dito a mais profunda verdade para qualquer cristão: “A minha graça te basta” [I Co 12:9]. O que se estende a todos nós!

Paulo está derramando seu coração e meio a ataques ao seu chamado apostólico. Os coríntios não reconheciam sua autoridade. Até mesmo sua integridade, lealdade e capacidade foram questionadas por seus inimigos. Seu amor foi posto em dúvida. Uma tempestade de oposição o abateu, talvez a maior tempestade que já enfrentou. Ele falara anteriormente de suas dificuldades e lutas: aflições físicas, aprisionamentos, espancamentos, apedrejamentos, naufrágios, assaltos, perseguição, noites mal dormidas, frio, calor, fome, sede. Mais entre todas as oposições a sua autoridade e chamado certamente o fazia sofrer. A rejeição, a traição, as duras críticas, as falsas acusações, o ódio! Pense um pouco sobre isto! Pense na rejeição, no desprezo e incompreensão vivida por Paulo. Imagine a tentação que seu coração sofreu pela mágoa.

É sobre estas circunstâncias aflitivas que Paulo é capaz de aprender algumas lições maravilhosas sobre a graça de Deus a fim de capacitá-lo a viver de uma forma vitoriosa sabre tudo!

A GRAÇA DE DEUS NOS ENSINA A VIVER VITORIOSAMENTE [1]

S.I. Quais são as lições que a [professora] graça nos ensina a fim de que nossa vida seja vitoriosa?
S.T – Através da experiência de Paulo com seu espinho na carne podemos aprender 5 preciosas lições oriundas da graça...

I. HUMILDADE [v.7]

Uma das grandes tentações que sofremos na vida é o orgulho, especialmente quando estamos em posição de privilégio. Portanto, Deus usa oposição e sofrimento para nos ensinar humildade.

Paulo obteve foi agraciado por muitos privilégios. Viu Jesus em pelo menos 4 situações, ali Cristo revelara-se para instruí-lo e encorajá-lo. [At 9:4-6, 18:9-10, 22:17-21, 23:11, II Co 12:1-4]. Quase a metade do NT foi escrita por ele.

Por causa da natureza extraordinária destas revelações, Deus colocou um espinho na carne de Paulo, para guardá-lo da exaltação [12:7]. Espinho aqui cabe mais a idéia de uma estaca – um pedaço de pau afiado para afligir e/ou torturar alguém. Assim Deus fincou uma estaca, na carne pecaminosa de Paulo, para afligi-la e matá-la, com o propósito de evitar o orgulho.

Esse espinho é descrito como “mensageiro de Satanás”, há diversas interpretações [1] Um líder, usado pelo diabo para se opor a Paulo [2] Uma enfermidade [cegueira ou malária.] Independentemente do que venha a ser o espinho, o propósito é claro. Deus soberanamente determinou usar tal situação para “esbofetear” a fim de humilhá-lo. Deus já fizera isto com Jó e Pedro. Deus o torna útil assim.

Ao contrário de que se pensa, não é elevando o ego ou a auto-estima, a opinião que a pessoa tem de si mesma que corrigimos o relacionamento dela com Deus, com os outros e com ela mesma. Deus nos esvazia nos humilha, nos quebranta para que tenhamos maior intimidade com Ele, para que vejamos sua glória e seu poder! Depois, segundo sua vontade, ele nos exalta!

II. DEPENDÊNCIA [v.8]

É preciso entender que Deus é a fonte da graça, nós somos tão somente canais. Temos a tendência de buscar nas pessoas a cura de nossas mágoas ou em atividades [compulsão por compra]. Deus quer que, em tempos de dificuldade, busquemos primeiramente a Ele.

Essa foi a reação de Paulo frente ao sofrimento. Em II Co ele afirma: “Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim”.

Por causa disto Paulo não disse, fui a psicólogo, repreendi satanás, comecei a comprar, a gastar, fiquei revoltado, sai da igreja. Ele tomou um rumo simples, ele foi a fonte da graça; ele rogou ao Senhor!

Três vezes ele rogou para que Deus removesse o espinho. Veja ele não decretou, determinou. Ele rogou. Sua oração foi persistente, mas humilde. Três vezes o Senhor disse não! Ele não estava em pecado. E Deus disse não! Ele é o Senhor. Ele diz às vezes sim ou espere ou não! Ele aprendeu que os propósitos de Deus se realizariam melhor com a resposta negativa. O não de Deus é sempre bom!!! Há pessoa que dizem que não sabem dizer não! Aprenda com Deus!

III. SUFICIÊNCIA [v.9]

Paulo não ficou irado, magoado e decepcionado com Deus. Eu creio que Deus de imediato não explicou a Paulo o porquê, nem precisa, Ele é Deus e não precisa prestar contas a ninguém do que faz. Creio que paulatinamente Paulo foi compreendendo os propósitos de Deus em tudo aquilo, inclusive no sofrimento e no não de Deus!

Deus disse: “A minha graça te basta”. A idéia é que toda vez que Paulo orava, Deus dizia: A minha graça te basta! Depois de três vezes, ele desistiu!

Deus respondeu a oração de Paulo, Deus sempre responde. Certamente muitas vezes não será o que nós queremos. Ele podia remover o espinho? Claro. Mas Deus não é mal, é bom! E tudo que Ele realiza é sempre visando nosso bem!

Certamente na nossa vida podemos experimentar muitas coisas amargas. Sofrimento, incompreensão, traição, percas, tristezas, mas aquele que é crente no Senhor, uma coisa jamais faltará aqueles que estão em Cristo Jesus, graça!!!! E ela é suficiente! Ela basta!

O perdão dos nossos pecados, o amor de Jesus em nos reconciliar, a vida eterna dada imerecidamente em Cristo, a glória da ressurreição e a esperança gloriosa de vivermos para sempre com o Senhor nos basta! O conhecê-lo e o amá-lo, o servi-lo e o adorá-lo, nos basta! Nos basta conhecer e amar a Deus! Ele é tudo!!!

Aceitar a vontade soberana de Deus é um aspecto fundamental para viver a vida cristã! Problemas, tentações e dores são inevitáveis. Li de líderes da Teologia da Prosperidade que vão ao médico escondido para que seus liderados não saibam que estão doentes. Deus usa situações difíceis e até mesmo a enfermidade para produzir humildade, comunhão e louvor! Ele não promete removê-lo, mas garante a graça suficiente de suportar com alegria.

IV. PODER [v.9]

O sofrimento que revela nossas fraquezas serve também para revelar o poder de Deus [v.9]. Quando somos menos dependentes do nosso poder e força humana corremos e nos agarramos Aquele que é Todo Poderoso, para nos sustentar e assim somos canais adequados pelos quais Deus faz fluir seu poder.

Paulo afirmava que sentia prazer nas adversidades, pois ela era a ocasião maravilhosa para revelar o poder de Deus.

No caso de Paulo o poder de Deus era evidente que qualquer pessoa veria que não era possível um ser humano depois de tantas lutas e sofrimentos realizar o que ele realizara a não ser se o poder de Deus estivesse nele. A glória então não seria do homem, mas de Deus!

Por isso afirmava que louvava ao Senhor diante de suas fraquezas. Ele não era masoquista. Não adorava ser maltratado, mas alegrava-se em ver o poder de Deus atuando em sua vida.

V. CONTENTAMENTO [V.9]

Paulo olhou seu problema [seu espinho] de uma forma diferente. Inicialmente lutou contra ele e pediu sua retirada. Certamente penso que não compreendera inicialmente o propósito de Deus. Imagine um homem a serviço do Senhor, pregando o evangelho, levando a Palavra, curando a muitos, com uma limitação? Não fazia sentido!!!

Mas sua perspectiva do problema mudou. Ele entendeu este espinho como um instrumento para torná-lo útil para Deus. Assim contentou-se! Ele mesmo afirmara que aprendera a ficar contente em toda e qualquer situação.

A maioria das pessoas fica descontente e triste porque pensa que sua felicidade consiste em gozar de circunstâncias agradáveis, possuírem saúde e muito dinheiro. Alguns acham que proteger os crentes de toda a dificuldade é o trabalho maior que Deus poder fazer.

Não é o que anuncia a famigerada e porque não dizer “desgraçada” Teologia da Prosperidade? Que não é outra coisa senão um meio para justificar e alimentar a carnalidade dos corações humanos que buscam desesperadamente e enganosamente satisfação em ter e não em ser?

A graça nos ensina a benção do contentamento. Uma vez que nada merecemos e que em Cristo Deus nos tem abençoado com tudo então que outra reação senão o contentamento!
[Cl 1:10-12]

Conclusão:

Que devemos fazer diante das lições da graça? Quando aprendemos que a graça nos ensina humildade, dependência, suficiência, poder e contentamento que podemos fazer agora? Pense qual deve ser sua reação? O que deverá ocorrer no coração de um homem que compreendeu que Deus tem nos dado tudo em Cristo de forma imerecida e abundante? Eu quero ouvir uma sugestão – será que é a que veio ao meu coração quando terminei esta mensagem? LOUVOR E ADORAÇÃO!!!

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[1] O esboço da mensagem foi extraído do livro "Nossa Suficiência em Cristo" de John F. MacArthur, Jr. Ed. Fiel - SP - 1995. Capitulo 11: A Graça Suficiente [pp. 199-214]