quarta-feira, 5 de maio de 2010

LIÇÕES DA CARTA DE AFASTAMENTO DE JOHN PIPER

Antes de mais nada, leia a carta de pedido de afastamento do Pr. John Piper e depois siga a leitura sobre lições que tiro de sua carta. Eis o endereço:

http://libertosdoopressor.blogspot.com/2010/04/john-piper-pede-afastamento-ministerial.html

Não tenho ocultado de ninguém o apreço e grande admiração que tenho pelo Pr. John Piper, ele tem se tornado para mim um modelo, embora distante, mas presente daquilo que penso ser um pregador do evangelho. Obviamente longe de mim o ser igual a ele, pois bem sei que Deus me criou e tem para mim um chamado e uma história que devo caminhar, buscando nEle o discernimento do que Ele deseja para minha vida e meu ministério. No entanto, agarro-me a modelos de ministério como do pastor Piper como referencial e bússola para o desafio de anunciar evangelho de Cristo. Tenho praticamente todos os seus livros traduzidos em português e tenho sonhado quem sabe um dia ir às conferências de sua igreja. Aqui, o amado pastor, mesmo diante de seu pedido de afastamento, não deixa de ministrar a mim preciosas lições que devo estar consciente das demandas e desafios do ministério pastoral. Vamos a elas:

1. O ministério pastoral cobra um preço

Aprendo que por mais que tenhamos uma vida íntegra diante do Senhor e dos homens, por mais que sejamos zelosos para com o evangelho o ministério cobra seu ônus. No caso em especial do pastor Piper o custo, ao que parece, é seu relacionamento conjugal, embora firme como uma rocha necessita ser “jardinado”, pois para ele jardim é uma figura melhor que deve ilustrar um casamento. Assim bem sei por experiência própria que é impossível um pastor proteger plena e hermeticamente sua esposa e todo o seu lar das lutas ministeriais. Afinal, acima de tudo são uma só carne. Portanto o ministério, para aqueles que são zelosos e sinceros, para aqueles que o ama e anseia para que Cristo seja formado em cada uma das ovelhas necessita de esforço, suor e lágrimas, mas este esforço trará no seu bojo algum preço. Eis uma tensão que confesso até hoje não consigo plenamente resolver, ora sei que devo zelar primeiramente e acima de tudo por meu lar, mulher e filhos [nesta ordem] e ora sei que devo zelar e me doar pelo ministério, que amo. Esta tensão ora exigirá de um lado minha atenção como de outro também, mas por fim o custo mais alto virá para mim mesmo. Talvez as palavras de Paulo ilustre esse ônus que os servos do Senhor irão vivenciar:

Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no corpo as marcas de Jesus. [Gl 6:17]

2. A fragilidade do ministro

Por mais que eu saiba e até mesmo brade isto no púlpito talvez seja difícil para mim mesmo, lá no fundo admitir, o pastor não é um homem de ferro ou um super-homem. Sei disto na cabeça, mas talvez o orgulho não me deixa transparecer plenamente tal verdade. Por mais que entenda essa verdade insisto em ver o ministério pastoral com os olhos da força e não da fraqueza. Mas o ministério não é para os fortes, mas para os fracos e esta fragilidade, na verdade é importante para o ministro.

Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. [I Co 9:22]

Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte. [II Co 12:10]

Paulo ilustra muito bem a natureza do ministério pastoral por meio de um vaso de barro:

Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós. [II Co 4:7]

Assim, não deveria me surpreender com a fragilidade de Piper, ao revelar áreas de sua vida que necessitam serem corrigidas, ele é um vaso, frágil vaso como deve ser um ministro. Como ele, bem sei onde devo estar mais cuidadoso sobre meu caráter e minha vida para não ser surpreendido pelo velho homem que ainda [até que Cristo volte] habita, miseravelmente, em mim!

3. A sinceridade do ministro

A transparência de Piper, ao abrir seu coração perante sua igreja é uma grande lição para mim. Tenho tentado ao longo dos anos não ocultar, embora algumas vezes o faça, minhas lutas e minhas tristezas, como também minhas alegrias e bênçãos. Ao confessar que precisa parar para corrigir alguns aspectos de sua vida, fez-se para mim mais admirável do que já era. Parar é bom para refletir, pensar e auto-examinar, parar para corrigir é melhor ainda. Sinceridade é instrumento central na vida do ministro.

Porque nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus.[ II Co 2:17]

A verdade é que nunca usamos de linguagem de bajulação, como sabeis, nem de intuitos gananciosos. Deus disto é testemunha. [II Ts 2:5]

4.O amor do ministro

Não deixo de perceber o grande amor que ele tem por sua igreja. Talvez esse sentir só que tem um chamado possa lá no fundo entender, é algo infundido por Aquele que o chama, não vem do ministro, e é certamente indispensável no exercício do ministério, pois ele tem suas tentações, seus espinhos, suas feridas, suas críticas [justas ou injustas], e suas incompreensões, então somente o amor do Senhor na alma do pastor pode salvá-lo de não ser tragado pelo lado duro que o ministério pode oferecer. Este é um elemento central e básico. Posso ser um grande e profundo exegeta e pregar grandes sermões, mas se não tiver amor nada serei, posso ganhar almas para Cristo, mas se não tiver amor, nada disto me adiantará, posso administrar e ser grande gestor da igreja, mas se não houver amor nada terá valor. Assim o ministério deve ser encharcado com amor para que zele, cuide, console e ampare, corrija e discipline segundo a vontade de Deus. Cabe aqui pergunta retórica de Paulo:

Quem, porém, é suficiente para estas coisas? [II Co 2:16]

Ninguém! Portanto o pastor deve ser inspirado no amor do Senhor por ele, para que possa amar seu rebanho. Se de um lado vemos o amor do pastor, não deixo de ver o amor do rebanho ao seu pastor. Não somente porque sua igreja o sustentará em meio ao recesso, mas pela liberdade que possui de abrir seu coração e creio por incansáveis e perseverantes orações que farão por ele e sua família. Esse amor do rebanho protege o coração do pastor e o conforta. Tenho experimentado ao longo desses anos provas maravilhosas deste amor [que claro vem de Deus] por meio do Seu povo. Sei que há irmãos que não deixam de orar por mim, de zelar por minha vida e família, desde o sustento que vem por suas ofertas e dízimos a pequenos gestos [cartões, telefonemas, e-mails, presentes, palavras, abraços] que na verdade são grandes gestos de amor, pois são carregados de simplicidade e sinceridade.

Eis grandes lições que tiro desta carta para minha vida e ministério!

Pr. Luiz Correia
[Prega a Palavra]